O sentimento é de gratidão. Nas palavras, o reconhecimento pela acolhida. Desde o final de janeiro é na Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) que o aposentado Aniceto Lopes, 67, tem encontrado suporte para não precisar enfrentar os 188 quilômetros até Bagé, após cada uma das 28 sessões de radioterapia realizadas em Pelotas. “Estamos admirados com todo o conforto que temos encontrado aqui. Estamos torcendo que as pessoas possam ajudar e que valorizem este lugar”, destaca Dilma Guterres Lopes, na sala da Casa de Apoio que tem se transformado em lar enquanto o marido realiza tratamento para derrotar o câncer de esôfago.

Uma campanha desencadeada este mês busca novos parceiros para manter a qualidade no atendimento da Aapecan, que completa 15 anos de atividades em 2020. A arrecadação tem registrado queda. Em janeiro, a receita caiu 22% se comparada ao mesmo período de 2019. Em fevereiro, a redução se repete e já chega a 15%. E as despesas são altas. Só de aluguel, a entidade precisa desembolsar R$ 5,5 mil por mês. Sem falar em custos como energia elétrica e alimentação dos usuários e seus acompanhantes, que recebem quatro refeições diárias.

“90% da nossa arrecadação vem do telemarketing e calculamos um custo médio de R$ 218,00, por dia, com cada uma das famílias”, explica o coordenador da Aapecan na Metade Sul, Fabiano Gerbaudo. E lembra que a retaguarda da Associação vai longe. Não raro, representa acesso a fraldas, a remédios e a suplementos e dietas alimentares, que não cabem no orçamento dos usuários. Por isso, é fundamental poder contar com a rede direta de solidariedade de moradores de toda a região. É um investimento da comunidade que retornará para a própria comunidade.

“Nos sentimos em casa aqui”

O momento é, sim, de fragilidade. O motorista aposentado enfrenta o câncer de esôfago com garra, mas em grande parte dos dias os efeitos da radioterapia, associados à perda de mais de 30 quilos, trazem desânimo. Ter de se submeter à estrada no vai e vem Bagé-Pelotas-Bagé seria ainda mais desgastante. Foi quando Aniceto e Dilma descobriram a existência da Casa de Apoio da Aapecan, em Pelotas. “Não temos amigos nem familiares aqui. Seria muito cansativo para ele”, resume a esposa. 

E, além de comemorar a possibilidade de acolhimento, festeja avanços simples e significativos. Deixar a sonda de lado por instantes e poder comer um pão, na tarde de quarta-feira, teve sabor realmente especial: de que o tratamento apresenta resultados positivos. “Tô falando pra todo mundo sobre este lugar e já avisei: um dia também vou ajudar. Se Deus quiser”, adiantou Dilma.

Ajude a Aapecan! 

A manter a rotina, com qualidade:

A Casa de Apoio da Aapecan, em Pelotas, tem capacidade de acolher até 22 pessoas, entre pacientes e acompanhantes. Ao longo destes 15 anos de história já são cerca de quatro mil cadastros, incluindo moradores da região da Campanha, como Aniceto e Dilma. Não é, portanto, apenas a população da Zona Sul que se beneficia dos serviços da Associação.

E além do suporte de hospedagem - com quartos equipados com ar-condicionado -, os usuários contam com atendimento nas áreas de psicologia, de assistência social e jurídica. Não raro, se constatado que as famílias vivem em situação de vulnerabilidade social, recebem kits alimentares que garantam condições para retomada da imunidade. Transporte dos pacientes dentro de Pelotas, oficinas e terapias complementares também fazem parte do trabalho. Tudo em nome da qualidade de vida. De assegurar dignidade aos usuários; a mesma motivação que surgia em Caxias do Sul, em março de 2005, quando criada a primeira unidade da Aapecan no Rio Grande do Sul. Hoje já são 14; dez delas estruturadas com Casa de Apoio.

Em Pelotas, a Aapecan funciona na rua Barão de Santa Tecla, 821. O telefone é o (53) 3026-2965. O site é o www.aapecan.com.br.

A alimentar o sonho da sede própria:

O terreno já existe, desde 2019. Cresce, portanto, o sonho da sede própria, que permitisse encerrar os gastos com aluguel. Parcerias com empresários e com instituições que permitam ampliar o caixa ou receber doações de material de construção também são muito bem-vindas. Em Bagé, a iniciativa do troco solidário no supermercado Nicolini resultou em R$ 145 mil e garantiu 58% do valor total - de R$ 250 mil - investido na compra de prédio. Mais um feito a comemorar. 

Em Pelotas, parcerias firmadas com Rotary, Brechó Jurídico e Parque Una integram lista de iniciativas a destacar. E tornam-se combustível para acreditar em novos projetos, em 2020.